sábado, 30 de abril de 2011

"Para que pesquisamos? Para quem pesquisamos?": a produção do conhecimento como ação política


“Para que pesquisamos? Para quem pesquisamos?” Essa foi a provocação deixada na aula de 22/04 para que iniciássemos a escrita de nossos diários. Como eu já tinha iniciado a minha, a provocação “atravessou” essa escrita. Por outro lado, desde o início, considerando o "lugar" de onde eu falo, minha escrita esteve atravessada por essas questões a todo momento.
Entendo que tais perguntas somente são possíveis se entendermos que a produção do conhecimento possui um “para que”, uma finalidade, e um “para quem”, um destinatário, que ela não ocorre por ocorrer, por um movimento sem um sentido ou natural. O “para que” e o “para quem” pesquiso indicam uma forma de implicação da minha produção – uma das maneiras como estou implicado naquilo que produzo. Entendo, assim, que a produção do conhecimento (da qual faço parte ao escrever este blog inclusive) não se dá de forma neutra, avalorativa ou a-histórica – o “para que” e o “para quem”, dentre outras questões, estão a todo momento implicados no conhecimento produzido.
De igual maneira, na medida em que compreendo que práticas e discursos não se encontram em uma relação de oposição, mas antes numa situação de coengendramento – as práticas se constituem de uma tal maneira a partir dos sentidos veiculados pelos discursos, os quais por sua vez se configuram a partir das práticas a que pretendem dar sentido – entendo que a produção de conhecimento é uma forma de ação política, produzir conhecimento é produzir efeitos no mundo. Não acompanho, portanto, aqueles que defendem uma suposta separação entre teoria e prática ou entre a ação e a teorização.
Entendo ainda que essa produção de efeitos não é uma questão de opção daquele que produz o conhecimento – não está na esfera de controle desse sujeito determinar se o discurso produzido terá ou não efeitos no mundo (pois sempre terá), tampouco quais efeitos serão esses (pois os efeitos se dão na interação com outras práticas e discursos para além desse sujeito). O que se pode e se DEVE fazer é a todo momento questionar-se QUAIS os efeitos que o conhecimento que se está produzindo gera no mundo e se tais efeitos são os que efetivamente se deseja produzir (e, não o sendo, mudar).
Esclarecidas essas questões, talvez as respostas às perguntas que intitulam esse post não soem tão “piegas” ou “ingênuas” quanto poderiam parecer se as dissesse logo de início. Eu pesquiso para mudar o mundo e, roubando uma frase da minha companheira de reflexões, “se não para deixá-lo melhor, ao menos para não torná-lo pior”. Pesquiso para colocar em questão as maneiras instituídas de se compreender o mundo num determinado campo e tentar produzir formas outras de sermos nele (no mundo). Pesquiso para mudar o mundo e como em nenhum momento estou “fora do mundo”, pesquiso para mudar também a mim mesmo. Pesquiso, portanto, para todos e, logo, também para mim.

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